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Este blog tem o objetivo de publicar a produção de textos dos alunos das turmas de Laboratório de Jornalismo Impresso, PUC-Rio, 2012.2.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Um estádio controverso desde a pedra fundamental


Victor Belart


É comum que as cidades sedes de grandes eventos esportivos escolham figuras animais como mascote de divulgação dos jogos. O personagem da Rio 2016 ainda não foi definido , mas se o desfecho das obras nas praças esportivas for semelhante ao do PAN, não há mascote mais indicado do que um elefante branco. Das estruturas construídas para 2007, apenas o Estádio Olímpico tem uso frequente – ainda assim impulsionado pela interdição temporária do Maracanã. Públicos medianos, parceria com o Botafogo e um projeto de reforma visando as Olimpíadas marcam os cinco anos de vida do estádio, que foi construído com um valor mais de seis vezes superior ao estimado inicialmente.
O Estádio Olímpico foi construído numa parceria entre as construtoras Racional, Delta e Recoma. Inicialmente orçado em R$ 60 milhões, o valor total gasto na construção do estádio superou os R$ 380 milhões. Com capacidade para 45 mil pessoas, o estádio não tem o limite mínimo para partidas das Olimpíadas e – por isso – já sofrerá sua primeira reforma e será ampliado a 60 mil. A  obra ainda não tem valor estimado, mas o projeto já é anunciado com orgulho no portal da construtora Odebrecht, contratada pela Prefeitura para várias obras olímpicas. O Engenhão foi inaugurado em junho de 2007 com uma partida entre Botafogo e Fluminense vencida pelo alvinegro. No mês seguinte, as provas de atletismo do Panamericano encerraram o período de administração da Prefeitura no estádio pelo menos até 2027. Em licitação aberta ainda na gestão de Cesar Maia, o Botafogo se apresentou como único clube capaz de arrendar o estádio num contrato de 20 anos. O alvinegro tem um compromisso de  R$ 36 mil mensais com a Prefeitura, mas a real despesa vem do custo de manutenção do estádio.
O Botafogo mandou sozinho seus jogos no estádio durante um breve período de dois anos. Arrecadando pouco com renda dos jogos, o clube fechou em 2009 um contrato de terceirização do espaço com uma empresa que auxilia o clube na administração do estádio. Apesar do esforço da Supervia de oferecer trens especiais em dias de jogos, o torcedor não se habituou a frequentar o estádio e o Botafogo teve sua média de público reduzida de quase 18 mil em 2007 para menos de 15 mil em 2008.
Se no futebol o Engenhão não era o estádio preferido, no Atletismo não havia nem chance de escolha. De agosto de 2007 até 2009 nenhuma prova foi disputada no estádio.    Em 2009 a administração do Botafogo e a Federação de Atletismo lançaram uma parceria que prevê a realização de escolinhas e oficinas de desenvolvimento para jovens atletas. 
Em junho de 2010 o Maracanã fechou para obras de Copa e com isso Flamengo e Fluminense passaram a realizar seus jogos no estádio. Com o maior número de partidas no Engenhão, o Botafogo firmou parceria com a AMBEV e passou a usar o estádio de maneira rentável. A cervejaria oferece tecnologia e custeia parte das despesas do estádio em troca de divulgação e visibilidade. A AMBEV passou a ser uma espécie de patrocinadora Master do Botafogo, sem estampar seu nome na camisa do time, não vinculando sua marca exclusivamente ao clube da estrela solitária.
Sem o Maracanã, as torcidas de Flamengo e Fluminense também tiveram de se adaptar ao estádio e o processo de rejeição foi similar ao do Botafogo. As médias de público dos clubes cariocas no Brasileirão 2012 são as piores desde 2003. A sobrecarga de jogos no estádio também gerou problemas ao gramado, o que fez a AMBEV importar da Holanda, no mês passado, uma tecnologia especial para tratar do campo.
Mesmo com públicos baixos, gramado criticado e dificuldade nos acessos, o Engenhão passou a beneficiar o Botafogo e a AMBEV de diferentes maneiras. Enquanto as cadeiras dos setores norte e sul do estádio são caracterizadas com a logomarca da Brahma, o Botafogo sobe o preço do estacionamento do estádio em até 25 reais para partidas de outros clubes. Melhor adaptado em administrar o estádio, o clube alvinegro lançou em setembro um projeto Olímpico que tem o Engenhão como baluarte. Para usar o estádio de diferentes maneiras, o clube passou ainda a realizar uma série de shows e eventos culturais no estádio.
Enquanto o Botafogo se desdobra para gerar receita com a estrutura pública que administra, a Prefeitura ainda não deu prazo nem orçamento para as obras de ampliação do campo e nem afirmou se o estádio vai de fato ser interditado para essas reformas. Já o Maracanã é reformado pelo Governo do Estado com um orçamento que ultrapassa os 900 milhões de reais. Enquanto isso, a torcida carioca torce pelo retorno do Maior do Mundo e o Botafogo oscila entre lucros e prejuízos por ser inquilino de um estádio que a Prefeitura construiu, mas se recusou a administrar.