Victor Belart
É comum que as cidades sedes de grandes eventos esportivos escolham figuras animais como mascote de divulgação dos jogos. O personagem da Rio 2016 ainda não foi definido , mas se o desfecho das obras nas praças esportivas for semelhante ao do PAN, não há mascote mais indicado do que um elefante branco. Das estruturas construídas para 2007, apenas o Estádio Olímpico tem uso frequente – ainda assim impulsionado pela interdição temporária do Maracanã. Públicos medianos, parceria com o Botafogo e um projeto de reforma visando as Olimpíadas marcam os cinco anos de vida do estádio, que foi construído com um valor mais de seis vezes superior ao estimado inicialmente.
O
Estádio Olímpico foi construído numa parceria entre as construtoras Racional,
Delta e Recoma. Inicialmente orçado em R$ 60
milhões, o valor total gasto na construção do estádio superou os R$ 380
milhões. Com capacidade para 45 mil pessoas, o estádio não tem o limite mínimo
para partidas das Olimpíadas e – por isso – já sofrerá sua primeira reforma e será
ampliado a 60 mil. A obra ainda não tem valor estimado, mas o projeto já é anunciado
com orgulho no portal da construtora Odebrecht, contratada pela Prefeitura para várias obras olímpicas. O Engenhão
foi inaugurado em junho de 2007 com uma partida entre Botafogo e Fluminense
vencida pelo alvinegro. No mês seguinte, as provas de atletismo do Panamericano
encerraram o período de administração da Prefeitura no estádio pelo menos até
2027. Em licitação aberta ainda na gestão de Cesar Maia, o Botafogo se
apresentou como único clube capaz de arrendar o estádio num contrato de 20
anos. O alvinegro tem um compromisso de R$
36 mil mensais com a Prefeitura, mas a real
despesa vem do custo de manutenção do estádio.
O Botafogo mandou sozinho seus jogos no estádio durante um breve período de dois anos. Arrecadando pouco com
renda dos jogos, o clube fechou em 2009 um contrato de terceirização do espaço com uma empresa que auxilia o clube na administração do
estádio. Apesar do esforço da Supervia de oferecer trens especiais em dias de jogos, o torcedor não se
habituou a frequentar o estádio e o Botafogo teve sua média de público reduzida
de quase 18 mil em 2007 para menos de 15 mil em 2008.
Se no futebol o Engenhão não era o estádio preferido, no
Atletismo não havia nem chance de escolha. De agosto de 2007 até 2009 nenhuma prova foi
disputada no estádio. Em 2009 a administração do Botafogo e a Federação de Atletismo
lançaram uma parceria que prevê a realização de escolinhas e oficinas de
desenvolvimento para jovens atletas.
Em junho de 2010 o Maracanã fechou para obras de Copa e com isso
Flamengo e Fluminense passaram a realizar seus jogos no estádio. Com o maior
número de partidas no Engenhão, o Botafogo firmou parceria com a AMBEV e passou
a usar o estádio de maneira rentável. A cervejaria oferece tecnologia e custeia
parte das despesas do estádio em troca de divulgação e visibilidade. A AMBEV
passou a ser uma espécie de patrocinadora Master do Botafogo, sem estampar seu
nome na camisa do time, não vinculando sua marca exclusivamente ao clube da
estrela solitária.
Sem o Maracanã, as torcidas de Flamengo e Fluminense também
tiveram de se adaptar ao estádio e o processo de rejeição foi similar ao do
Botafogo. As médias de público dos clubes cariocas no Brasileirão 2012 são as
piores desde 2003. A sobrecarga de jogos no estádio também gerou problemas ao
gramado, o que fez a AMBEV importar da Holanda, no mês passado, uma tecnologia
especial para tratar do campo.
Mesmo com públicos baixos, gramado criticado e dificuldade nos
acessos, o Engenhão passou a beneficiar o Botafogo e a AMBEV de diferentes
maneiras. Enquanto as cadeiras dos setores norte e sul do estádio são
caracterizadas com a logomarca da Brahma, o Botafogo sobe o preço do
estacionamento do estádio em até 25 reais para partidas de outros clubes. Melhor
adaptado em administrar o estádio, o clube alvinegro lançou em setembro um
projeto Olímpico que tem o Engenhão como baluarte. Para usar o estádio de
diferentes maneiras, o clube passou ainda a realizar uma série de shows e
eventos culturais no estádio.
Enquanto o Botafogo se desdobra para gerar receita com a
estrutura pública que administra, a Prefeitura ainda não deu prazo nem orçamento
para as obras de ampliação do campo e nem afirmou se o estádio vai de fato ser
interditado para essas reformas. Já o Maracanã é reformado pelo Governo do
Estado com um orçamento que ultrapassa os 900 milhões de reais. Enquanto isso,
a torcida carioca torce pelo retorno do Maior do Mundo e o Botafogo oscila
entre lucros e prejuízos por ser inquilino de um estádio que a Prefeitura
construiu, mas se recusou a administrar.